segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ártemis

Se eu tivesse seguido os conselhos de mamãe, não estaria nesta mesa agora.

Olho ao redor e tudo, tudo que vejo não pertence a mim. Mas foi comprado com o dinheiro que custo muito a ganhar, na forma sutil de impostos e outros tantos artifícios escusos que empobrecem os nossos homens de bem.
Trabalho com/para e contra o Governo.
Os conselhos da mamãe ressoam nesta sala.
Estuda, menina.
Seja alguém na vida, menina.
Queria poder ter um profile invejável, senhores.
Queria mesmo poder unir minha voz àquelas que tanto lhes causam furor.
Mas como o poeta não sou nada, nunca poderei ser nada.
E os senhores, inteligentes como são, sabem o final da poesia.
Tenho em mim todos os sonhos do mundo. E hoje é o dia da caça.
Curarão doenças? Cuidarão dos flagelados? Adotarão criancinhas?
Não, os senhores, donos do mundo, dormem.
Está tudo acabado fora desta minha linda mesa cinza cheia de coisas que nunca serão minhas.
Estudarei muito, senhores.
Eu que não tenho comissões pomposas nas suas atuações mirabolantes, senhores, estudarei até a morte.
Para que nunca me roubem aquilo que realmente me importa.
Para que nunca empobreçam meus homens de bem.
Para que nunca cuspam na minha linda mesa cinza, crendo-se deuses.

Senhores. Eu tenho o arco, a flecha e o alvo.
Estou pronta.

É uma pena que os senhores não saibam o que é lutar.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Toda suor, rubro e agridoce.

Vamos à explicação do título.
Certo seria Ana Blue, meu codinome internético. Mais um espaço a não ser lido. Mas porque não escrever as porras das minhas agonias antes de tomar sei-lá-o-que aos montes na hora da raiva? Não me interessa que não leiam. Só preciso escrever pra exorcizar estes demônios todos.
Ana Blue não existe. É a busca pela fama nestas dolorosas redes sociais. Em busca dos melhores ângulos, as melhores fotos, as poesias mais dramáticas, as que vão trazer clareza à vida das pessoas que as leem entre um clique e outro. Ana Blue não existe. Aqui sou Ana, não sou do dique e das docas, nem de Amsterdã nem a de um Refrão de um Bolero. Meus lábios não são labirintos e estão fechados hoje. Sofro muito de amores e de dores inventadas. Meu nariz não sai bem nas fotos.
Numa dessas investidas hiperbólicas ao Grande Irmão, encontrei uma frase num Fotolog que nunca esqueci: Estou toda suor, rubro e agridoce.
Não estou suor.
Talvez agridoce porque o cheiro do creme Avon se mistura com a lágrima que cai (não falei que adoro um drama?)
O rubra fica por minha conta. Não sei se a palavra rubro tem este maldito feminino. Mas saiu assim.
Na avidez de não escrever aquele a quem amo tudo aquilo que pensava, fiz o blog, vesti o blog, inventei o blog, mudei o blog, loguei o blog. Tudo pra não esperar que ele responda, tudo pra não querer reler e-mails antigos, tudo para não pirar nesta minha mesa de trabalho depois do expediente às 6 da tarde. O blog nasceu. Junto com ele ressurgem meus diários de infância e aqui mamãe não vai ler. Lerei esta postagem daqui a um tempo e a achei ridícula, inútil, inimaginável. Mas como estarei feliz no futuro! Hoje não sou mais flor e náusea. Hoje eu não sou Ana Blue.
Hoje não espero mais nada. Que venham os gregos, os troianos e os bárbaros.
Estou dentro de mim e de mim não saio nem abro mão.

Hoje estou toda suor, rubro e agridoce.